13 de maio de 2013

Eu vou correndo

Próxima estação: Largo do Machado. Estação de integração para Laranjeiras, Cosme Velho e Cristo Redentor. Após dois anos, essa frase deixará de significar que ainda faltam alguns longos minutos até eu poder dizer home sour home. Quer dizer, após dois anos ganhando mofo em ponto de ônibus e jogando dinheiro de aluguel descarga abaixo, vou dar adeus a Laranjeiras. Adeus, Laranjeiras... ou hasta luego? J'sais pas. Nas nossas andanças de sábado, a Letícia dizia que gostava de tal ou tal prédio; eu embarcava dizendo que a gente moraria aqui ou ali. Prédios do Cosme Velho: bonitos, embora eu nunca tenha visto nenhuma alma viva entrar nem sair deles.

Vou sentir falta do bolinho de bacalhau da feira e das crianças comediantes da creche. Não vou sentir falta da gentinha do prédio ao lado nem da chuva atravessando a esquadria, pingando pelo peitoril e estufando o piso. Não vou sentir falta de deixar rios de dinheiro na lavanderia e na conta da proprietária deste apartamento. Eu queria muito mandar a Berenice tomar no cu. Eu só queria que ela soubesse o quanto eu penei para lidar com os problemas desse apartamento. Mil e duzentas dilmas: se foder, cara.

No meu segundo sábado em Laranjeiras, eu disse para minha amiga Luciana que havia vindo para cá para "escrever tese". A verdade é que eu produzi muito pouco nesses dois anos. Pouco, mas o suficiente para entender que fazer doutorado (corolários: burocracia, incompetência alheia e desmandos num ambiente que deveria suar espírito libertário) é só para quem tem estômago. Ô pai, ô mãe, que criação foi essa que vocês me deram e que me fez cultivar tantas ilusões?

Esse desaforo cotidiano que chamamos de vida.

Já faz três meses que desativei minha conta no Facebook. Tirando meus amigos de verdade, aqueles para quem eu puxo cadeira no boteco, nego estava muito chato. Nego estava falando demais. Histrionismo demais, Spice Girls demais, instagramização demais, iShit demais. Trabalhando 60% do tempo em casa, eu padecia do mal de ver qualquer intervalo de dez minutos se transformar em uma ou duas horas jogadas fora naquela droga. Eu perdia um baita tempo me irritando com o ser humano. Embora esse processo de desintoxicação virtual esteja sendo menos produtivo do que o esperado –bem menos, aliás–, o fato é que eu voltei a sentir saudades dos meus amigos, desses para quem eu puxo cadeira.

Acontece que, agora, a vida pulsante não está mais nesses arredores. Eu vou correndo buscar a glória com minha Letícia, minha alegria.

Próxima estação: Afonso Pena.

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